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segunda-feira, 3 de agosto de 2015


GUSTAVO GUTTERRES FERNANDES, mais conhecido como "Caverna", com toda sua simpatia, conversou com a SPEED FREAK MAGAZINE, na pista do NA LATA SKATE FOOD em Garopaba-SC e contou um pouco de sua historia no skateboard e sua experiencia como profissional e conhecedor do mercado das marcas e patrocínios.

"Meu nome é Gustavo G. Fernandes, e o apelido acabou se transformando em Gustavo Caverna... essa coisa de Caverna, é um apelido de quando eu era mais novo, quando ia lá e me atirava, me arriscava mais, “caverniava”, eu não gostava do apelido Caverna mas enfim ... a galera foi falando e dai acabei me acostumando e hoje é o meu cartão de visita.
Eu competia nos campeonatos que tinha lá no Rio Grande do Sul,  com os guris, tipo o Feben, com o Gordo, com aquela molecada toda lá...
Eu ando de Skate desde que eu me conheço por gente, com 6 ou 7 anos já tinha um Bandeirante, já descia a calçada sentado, caia de cabeça, vinha pra casa chorando, todo machucado. Minha mãe não deixava andar.
Mas eu acho que com 14 ou 15 anos que eu vi, sem me dar muita conta, que a coisa tava na minha vida, indo pra campeonato e tal... Já tinha um patrocínio de tênis, já tinha o patrocínio da Heel Flip shoes que foi a empresa que me profissionalizou. 
Daí corri na época que tinha o circuito Qix lá Rio Grande do Sul, onde vinham todos os profissionais do Brasil.  Então foi um tempo legal. Da pra dizer então que é uns 30 anos de Skate, destes são vinte e poucos mais direto na cena.

Sempre fui um cara de transição, nunca fui muito de técnica de solo, mas técnica na parede. Andava no Bowl do Marinha, no Bowl da Sweel, andava lá em Taquara (RS) . . . iniciei criança e hoje tô com 38 anos, e no meio dessa jornada tinha que me definir, porque pra poder continuar andando de Skate e continuar como um profissional, porque eu era um atleta profissional... mas  as oportunidades foram aparecendo e a gente tem que fazer escolhas. 
Os caras viram que eu tinha perfil, interesse então começaram a me convidar pra fazer a parte mais comercial da coisa, mais da venda, de representante. Daí eu optei por ser um homem de vendas, ou seja, um atleta profissional e representante.  
Daí tu junta as duas coisas e dá um fortalecimento lá na frente, porque o cara tem conhecimento dos produtos, tem vivência, conhece as pessoas. 
Na verdade de tudo isso, tem um único sentido, o gostar de andar de Skate, por que eu estou no meio da molecada, não por status, ou por que tá na moda.... por isso os caras falam que é um Life Style. Se eu olhar pra trás, foram poucos os anos em que eu não andei de Skate. 

O Skate me ajuda a manter um equilíbrio. A gente se equilibra em cima do Skate e a gente se equilibra na vida, então ele mexe muito com o íntimo. O Skate dá uma tranqüilidade. Então fico feliz de fazer parte desse meio, de estar dando essa entrevista pra vocês, de falar da minha história.
SF - Como você vê a diferença do Skate da tua época como profissional pra essa molecada de hoje?
Hoje a diferença básica é que já eles iniciam forte... o mínimo deles já é quase que o máximo de antigamente. Primeiro as pistas, segundo os pais hoje em dia já dão abertura, incentivam, levam, apostam, investem.
Hoje em dia o pai é fotógrafo, o pai é atleta profissional também, então existe essa mescla das coisas e a convivência. Eu destaco a convivência porque antes a gente não tinha convivência, eu era mais novo e não tinha convivência com os outros profissionais mais velhos. Era uma criança com meus amigos, daí a gente saia pela rua descer lomba, montava mini ramp, pegava o trem e ia pra um half em uma cidade distante e assim ia indo.
Hoje existe todo um suporte do mercado, por menor que seja, sempre tem uma pista perfeita, por exemplo o Na Lata (Bowl em Garopaba-SC) , com Gustavo Picascki (skatista de Imbituba -SC), Vicenzo (skatista de Garopaba-SC), e João Bitto já são amigos do Pedro Barros, do Foguinho, do Murilo e tiveram a oportunidade de andar com os ícones.
Hoje tem mais pista, o mercado está mais maduro, por que antes não tinha certas coisas. Não tinha cara mais velho andando junto, não tinha pista boa. . . a construção das pistas hoje é feita por caras que são qualificados.  
A orientação e vivência para os atletas é diferente.  Eu mesmo, mesmo sendo um cara meio enérgico, eu cuido ao lidar com eles, eu cuido pra passar o que eu não tive, pois muitas vezes o cara tá “cego” numa vaidade, numa coisa assim. . .E a gente ali é igual, somos amigos...
Os exemplos que eu tinha ontem de atletas não eram tão legais, hoje eles podem escolher até. Tem internet pra olhar. . . a distância não existe mais. 
Porque antes eu não tinha nem um telefone. Hoje a mídia facilita, tem muitas coisas contemporâneas, o Skate é contemporâneo e vai acompanhando a evolução das coisas. Hoje eu aprendo com a molecada pois eles dizem assim “bota o pé mais prá lá, bota o pé mais prá cá” porque  hoje eles são muito exigentes, com estilo, com o perfeito. As manobras antes eram feitas por instinto, tu ia tentando...Hoje não, hoje tu só senta aqui e fica  olhando e vê uma manobra e já vê como é que faz.
O Skate me sustenta, me dá um equilíbrio, me dá tranqüilidade e é a minha segunda família. A gente pode estar sozinho, mas tu pega o teu skate, seja na mesma cidade, no mesmo bairro, ou em outra cidade, tu vai encontrar outros amigos, tu vai encontrar outros profissionais. O skate tem vida. Então essa vida...eu tô dentro dela.

SF – Que recado você deixa para quem quer ser profissional?
Para o cara virar um profissional, um atleta, tem que ter não só habilidade técnica, não só aquela habilidade de estilo, que é muito importante mas também tem que ser educado, inteligente no trato com as pessoas, valorizar as coisas. 
Não adianta ser bom dos pés, mas tem que ser bom da cabeça. 
Valorizar o ensinamento dos outros que já vieram na frente.
 A gente acha que não, muitas vezes mas até aquela coisa que o pai, o avô já diziam: não faz tal coisa, mas tu vai lá faz e vê que...Resumindo é se relacionar bem com as pessoas que a coisa acontece, o patrocínio, a viagem é só ir andando de Skate....ficar amigo de todo mundo. 
A família do Skate é internacional. Hoje eu tenho amigos que moram pelo mundo inteiro e ligam e dizem vem andar aqui, vem morar aqui... O Skate tá muito globalizado e é uma língua que está no mundo inteiro.  
Tu sai daqui e vai na pista da Vans tem brasileiro andando lá, tu vai pra Barcelona e tem brasileiro lá. Essa família tá toda espalhada pelo mundo.   
SKATEBOARD

Também estiveram na sessão:
Gustavo Picaski

João Bitto FSP

              Vicenzo Damasio
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